O SILÊNCIO APAIXONADO
Um ébrio apartado do vinho, maré sem luar;
Parceiro sem par, herói sem o mito da batalha;
Ventura sem honrosa medalha, águia proibida de voar;
Lustre sem brilhar, junção que a si se retalha!
Soneto odiado pelo verso, vento disperso;
Destino sem acesso, molécula visível do nada;
Pegadas invisíveis pela estrada, infinito sem universo;
Um oceano deserto, uma dissonância propagada!
Legenda que traduz o caos, enigma do emblema derrotado;
Pastor sem cajado, império sem história;
Nata trajada de escória, latifúndio largamente minimizado;
Perfume desaromatizado, glória de fortuna irrisória!
Eu sou a força estóica gritando de monástica dor;
A neve sofrendo no calor, o gelo morrendo em plena chama;
Sou a inutilidade que declama, a rima que não harmonizou;
Aquele que teu beijo não provou, a voz calada gritando que te ama!