Bom dia, vida!
Amanheceu!
Tão logo esses raios divinos tocaram meu rosto,
Sensação de vida tive, vida no dia dos mortos.
Rumei ao encontro dessa nostalgia de mim se apossou.
Um céu matizado de azul límpido fitei,
E vontade tive de entoar uma canção celestial.
As aves “brincavam” sobre o mar,
As crianças em seus saveiros empunhando com os pais as redes
do pescado, arte divina, arte do Senhor, alimento divino.
Eu me senti insignificante diante de tanta simplicidade,
E vi que aí estava representado um verdadeiro quadro de felicidade.
Saí ao encontro de "mim", de Deus, dessa gente e assim consegui
encontrar-me contigo, escrevendo para ti.
As ondas batiam vagarosamente, preguiça de matina
O sol a tudo iluminava, inclusive eu.
E feliz estava com a criação.
No receptor "La prés midi d’un faune” (de Debussy)completava o êxtase.
E vi que as ondas vinham e deixavam uma ou outra concha.
Que se eu não as apanhasse, da próxima braçada o mar as levaria.
Que iriam de praia em praia até encontrarem alguém que as devotasse amor.
Apanhei uma concha e pus em pauta essas meditações.
E pensei em você, naquelas conchas.
quem sabe, aquela que em minha mão esquerda estava,
poderia ter vindo daí ou vice-versa, mas como?
não há um mar em Londrina.
E olhei para o mar que está poluído
Eu não o vejo assim em meu coração
Talvez não o tenha melhor que você
O meu mar e o teu são nossos pensamentos.
E quis ver o teu mar
Lancei-me a imaginá-lo
Até que me chega a razão de que ele está mui próximo de mim,
Que suas águas já me banham.
E um horizonte comigo se depara
Ouço ao longe uma melodia
Nela sinto o perfume de flores, de pureza
E percebo que uma nau se aproxima.
E percebo que nela se encontra você
E vejo a firmeza com que a dirige,
Tua nau, tua vida; teus mar, teus caminhos.
E freneticamente Haendel com sua música aquática,
Cisnes num lago, não mais um mar onde te perco.
E... um dia espero cruzar os teus caminhos,
Andar na felicidade que me dás.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 2 Novembro de 1974.