Travessia
Travessia
I
Na poesia me perco para poder te encontrar.
Em portos perdidos, tomo velhos navios,
Sem velas, sem norte, singro mares bravios -
Em Pasárgada te vejo; carrego-te nos braços prá Madagáscar.
II
Copiando Cortez, as antigas naus, ponho-me a queimar.
Em uma ilha deserta, mas plena de amor, viverei com você
uma metáfora perfeita, pois locupletar-te de beijos, é o meu maior querer.
Tu e eu na redoma; em um dia me tomas, em outro irei te tomar.
III
Netuno nas ondas, invejoso, o namoro a seguir.
Vênus no céu nos protege, com amorosa doçura.
Hera em fúria, repleta de lamúrias, vai a Zeus reclamar.
IV
-Como pode na Terra, amor assim existir?!
Cupido intervém: - alvejei. Não tem cura.
Idílio assim - sem pareia! - nem um grão de areia, se deve jogar.
V
Viajo de novo, através deste canto, pras bandas da Lagoa da Porta... tempo de inverno, riacho a transbordar, molhando minhas vestes na tentativa de travessia, a misturar o cheiro bom da vagem da ingazeira com o perfume das juremas em minha pele.
Vale do Paraíba, tarde de Sexta-Feira, Novembro de 2008
João Bosco