Negro Olhar
Negro Olhar
Queria tanto, mas tanto mesmo, dormir contigo. Dormir de verdade; dormir um sono abraçado.
Sonhar um daqueles sonhos sonhados, te ver dormindo ao meu lado e perceber que estou acordado.
Deixar minha perna enroscar em tua perna, dividir travesseiros, acordar com teu cheiro e me sentir premiado.
Tens outros presentes, mas teu olhar tão contente, para mim é o melhor. Acordo e te vejo: não é sonho – estás ao meu lado.
(...)
Ainda dormes, amada: hesito em te acordar. Tem visita lá fora – é a luz cambiante da aurora que vem te saudar.
Minha mão em tua mão, e o resto de noite se confunde com o dia que ainda vai começar.
O que é ser feliz? Pergunto a mim mesmo. Não tenho a resposta, e nem mesmo a quero buscar.
Mas estar com você me faz tão sereno, é um sentimento tão pleno, que não deixa saudade. Só vale sorrir - não cabe chorar.
(...)
Passeamos ao sol como dois namorados, em meio aos ipês, às hortênsias e rosas – tudo é um imenso jardim.
Tu a tudo reparas, estás curiosa: a força das águas, o lírio com sede, o bambu tão viril, e o belo jasmim.
Mas em todas as flores; entre árvores tão multicores, é o teu negro olhar, luzindo feliz, que quero prá mim.
(...)
Saímos do ninho. É preciso voar. Existirão muitas noites como esta de agora, feitas só pra se amar.
Essas duas noites de sonho repletas de amor, tu deitada em meu ombro, um sono só nosso, sem querer acordar.
Que imagem mais doce, tão lânguida, tão frágil. Acarinho teus cabelos, observo tua boca. Mas são os teus negros olhos que quero beijar.
(...)
Nunca sei se consigo expressar numa poesia a intensidade do dormir junto com quem amamos, do encontro confuso de braços e pernas e da harmonia encontrada num respirar a dois. Só consigo dizer, e isto digo do mais fundo de minha alma, que é muito bom. Melhor dizendo: é bom demais!
Vale do Paraíba, madrugada da primeira Segunda-Feira de Fevereiro de 2009
João Bosco