Crepusculo á Chuva


Chove tanto lá fora,

O vidro-pára-brisas,

Coberto de mil gotas de chuva cristalinas,

Turvam a visão!

Já se pressente o Mar de cinzento vestido,

Fustigando as falésias, impiedosamente,

Lá em baixo,

Deixando um espesso manto de espuma,

Onde por entre bolhas e limos, se encerram histórias,

Memórias de outras paragens, de outros Mares!


Cá dentro, por entre golfadas de cigarro,

d'um azul-prata,

Escuta-se o embalo irrestivel da Carmina Burana!

Em teus labios,

Forma-se um requiem de efémeras fumaças!

Somente um terminar apoteótico da tua melodia,

emprenha o ar, num certo gesto, num certo toque!!

A teu lado, calada, escuto o teu silêncio,

Embalo-me no "crescendo" do "Concerto de Aranjuez",

Mal notas a minha presença!


Encerro-me no meu sonho,

De melodias e maresias crespusculares.

Agarro ao de leve a tua mao, presa ao volante ainda!

E afago com ela minha face!

Timidamente, deposito nela um beijo,

Profundo!

E regresso, ao meu canto,

neste lado da Vida,

neste canto do Mundo!

Tão distante das tuas Luas e dos teus Sóis!!

Parti,

Deixei minha presenca, a teu lado,

Olha bem, no acento do carro,

Sentes a fragância da alfazema??

E o calor dos Girassois??




Aguarela Matizada
Enviado por Aguarela Matizada em 02/07/2006
Reeditado em 13/06/2010
Código do texto: T185956
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