Incógnita
Atrás dessas cortinas, feitas de sonho, quem me espreita?
O que de mim vai querer este ser envolvente – de modos estranhos?
Não o vejo - apenas sinto. Chegar bem mais perto será perda? Talvez seja ganho.
Só bebendo do Novo e me deixando tomar – é que terei a receita.
Não sei ainda quem és. Sei somente de teu beijar tão suave e de tua verde sedução.
Sei da semente de tua volúpia, de tuas ânsias ocultas, e muito mais do que mostras.
Sei dos teus medos, ausculto teus segredos, e gosto muito – daquilo de que gostas.
Tu és arredia, mas não avalias teu próprio calor. Quando te dás com ardor – não és brisa ligeira – és pura emoção.
Tens modos de monja em teu sóbrio trajar. Mas na penumbra do quarto é a outra que vem.
Dormes como criança e acordas mulher. Tens fome: aplacas – com zelo e doçura.
Escondes a Outra – essa dama confusa: entre quatro paredes não tens negaceios – de tudo procuras.
Colocar em poesia o que penso e o que sinto; é tarefa ingente, pois é muito premente a dor que me vem.
No entanto é catarse. É colocar face a face meus conflitos de vida, minha agruras de alma.
A sensação que me vem é de banho de rio; é de passeio na mata. Versos às vezes machucam – outras vezes me acalmam.
Escrever é a maneira que encontro de dizer o que muitas vezes não consigo verbalizar. Ao término da maioria das coisas que escrevo - surpreso, fico a me interrogar se saiu de mim mesmo.
Vale do Paraíba, manhã do primeiro Sábado de Fevereiro de 2009
João Bosco (aprendiz de poeta)