Estrela Mentirosa
Envolva-me em teu quente mundo de doces mentiras, e afasta-me urgentemente, com teu mágico metamorfosear, da consciência indigesta e fria dos fatos reais.
Preciso desesperadamente incendiar-me nas chamas de teu olhar, voar nas asas de tua voz, soçobrar arquejante, desorientado navegante, no mar incandescente de tua boca.
De nada me serve reger mundos, Universos criar, se a tua Realidade ainda não se fez presente. Sem teu amor, toda a criação perde o valor; ser Deus é coisa mui pouca.
O que farei com projetos quiméricos, se não mais me for dada a graça de captar a estrela fugaz, a brincar no brilho de teus olhos; olhos sonados que não vejo mais?
Este meu viver periférico, em exilada órbita renegado, a atrair pensares histéricos, qual bandoneon em tangos estratosféricos, a bailar em feéricas noites enluaradas,
Não preenche as expectativas, antes me atira em covas de famintas serpentes, a sofrer horrores de abandonado inconfidente, a mendigar alienígenas carícias, a um teu beijo suplicar.
Em cartas marcadas, em um baralho cigano, entremeado de enganos, nosso futuro estava escrito, com grandes letras em negrito, um aviso a nos alertar- “há muitos obstáculos a superar”.
Por isso, meu amor, peço-te mais uma vez: alegra-me com o sabor de tuas mentiras, afasta de mim esta verdade de precoce viuvez, e carreguemos juntos, o féretro da pequenez à sua última morada.
O amor faz-nos sentir mais tépida a grama em que pisamos; aspirar mais profundamente o olor que tresanda das flores e escutar, embevecidos, o canto dos pássaros, que todos os dias repetem o mesmo ritual, mas que, para nós que estamos inebriados de amor, parecem estar fazendo um canto único, especial, só para nosso deleite. O amor nos faz pessoas muito melhores, bem mais conscientes de nós mesmos.
Vale do Paraíba, manhã da terceira Terça-Feira de Agosto de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)