Corpo em partes
Vida e corpo que se partem em mil
Pedaços estilhaçados vou catando como um cego dentro e fora do meu ser
Ser, viver e sofrer
É o que foi permitido.
Vida e corpo que se partem em mil
Sinto-lhe dentro e fora de mim como se uma parte fosse levada e outra deixada
Uma boca gigante tomou conta do meu estômago
É o que não foi permitido.
Vida e corpo que se partem em mil
Algo estranho arranha o meu cérebro amarelo
E uma faca enorme e pontiaguda entrou pela minha nuca
É o que não permite hoje eu andar.
Vida e corpo que se partem em mil
Novamente sigo tateante procurando no chão lágrimas de sangue como se fossem moedas
E uma enorme pedra se fixou em meu fígado verde
É o que não me deixa em sossego.
Vida e corpo que se partem em mil
Já não mais ando e arrasto os meus pés pretos e pesados
Minha alma está manca
Meus joelhos há tempos já não funcionam
É o que me faz ainda sentir-me vivo.