Mudo

O despertar da fantasia é fatigante

corrói o que há de mais puro nos homens

dilacera a felicidade que inconstante foge ao contentamento,

que cruel exige para si exclusividade

quando poderia dividir.

A queda da ilusão e o vislumbramento da realidade

arrasta-o para o desconforto da solidão.

Exige dele forças que não as têm, crucifica-o,

estagna-o, paralisa suas vontades.

Dono do que poderia ser e ter

desconstrói-se, revolta-se

no amargo da suas sensações,

exalando o doce e amargo aroma que

o outro prova inocentemente.

O amargo ingerido doce se torna quando se entende a fantasia

e para não destruí-la ou causar-lhe danos: recua.

O doce ao ser saboreado é preservado na lembrança de quem

um dia deixou de acreditar que a fantasia é uma realidade travestida de cores apenas vistas por poucos e confusos olhos.

Mas talvez o homem humano prefira separar fantasia e realidade por não saber que a linha tênue, que as unem e as separam,

não pode ser vista por olhos desesperançosos.