Ideal
Quero-te no calor das tardes
quando o oceano bate asas e se infla
a voar e ver, por detrás do mundo,
o sol se esconder e a luz do dia repousar
Quero-te num sono tranquilo,
numa ilha cheia de botões de flor
e de perfumes que ultrapassam cheiros
e, quero-te, deitada na areia,
a me cantar doces nos ouvidos
e me tocar pérolas nas mãos
Quero-te à deriva, para salvar-te toda
e deixar-te tola de tantos amores
e largar-te à toa ao sabor do vento
que não é mais que um sopro da minha boca
Quero-te, em um arrepio, a gelar meu corpo
a queimar meu rosto, a velar-me em paz
a sorrir de lado sob o pôr-do-sol
sob o céu de março, sob a nuvem negra
Quero-te completa e retalhada em postas
quero-te aflita e serena e seca
quero o opaco inverno e o outono cândido
quero-te em cores, mas bem pura em branco
quero ter-te mais, mas querendo tanto
quero com vergonha de me confundir
e com a certeza de te afastar
quero estar em paz, mas é em ti que encontro
essa paz tristonha que me dá mais razão para dormir
mas que obriga meu corpo a acordar.