Dois
Dois
Talvez não mereça essa renuncia de cor
Nem me leve a mal seu eu não sou tão traidor
A coisa mais sincera que posso lhe dar
Talvez seja uma última mentira navegada em deserto atroz
Não desista de me jogar em teu jogo difícil
Nem me lembre da feira de amanhã
Eu acordo com o teu gosto todos os dias
E mastigo chicletes de hortelã para tirar o mal visto
Deita aonde não existe a ofensa
Deleite-se e divirta-se com a minha palavra
Esqueça que as luvas não cobrem esse frio
Pois o delírio das horas curtas não nos tira o amanhã
Pelo menos essa noite
Diga-me se sou o menino que te assaltou os olhos
Ou o desembarque da esfera perdida
Durma em meu peito por que já não sinto a dor
Livre-me de sua parte mais sagrada
Não preciso de um futuro a três
Diga que a verdade é mesmo uma simples tampa de tédio
Pois o mendigo que me escuta nunca passou fome na vida
Os teus olhos me lembram a neve
Os teus lábios me deixam seco como uma cascata de ódio
Já não sei se sou o ouvido do teu silencio
Nem reclamo do teu sono pesado
Apenas espero a cortina da sala balançar
Apenas para quebrar um minuto que ameaça a boca insana
Confuso, intenso.
Por favor, não peça para explicar o que ouço
Nem mesmo para sonhar a simples balada morta
Eu sou a decepção que você apostou todos os cavalos
E a covardia que você encontrou todas as vitórias
Leve-me daqui
Deixe-me viver ao lado do teu cais
Menina, ouça essa!
Eu estou nos anos sessenta
Só para compor uma estrutura que fará você dançar como uma louca
Que fará você buscar as desculpas
Todas as desculpas que minhas amídalas precisam
Ontem já é a melhor boca que percebi em teu risonho estandarte vulgar.