Dois

Dois

Talvez não mereça essa renuncia de cor

Nem me leve a mal seu eu não sou tão traidor

A coisa mais sincera que posso lhe dar

Talvez seja uma última mentira navegada em deserto atroz

Não desista de me jogar em teu jogo difícil

Nem me lembre da feira de amanhã

Eu acordo com o teu gosto todos os dias

E mastigo chicletes de hortelã para tirar o mal visto

Deita aonde não existe a ofensa

Deleite-se e divirta-se com a minha palavra

Esqueça que as luvas não cobrem esse frio

Pois o delírio das horas curtas não nos tira o amanhã

Pelo menos essa noite

Diga-me se sou o menino que te assaltou os olhos

Ou o desembarque da esfera perdida

Durma em meu peito por que já não sinto a dor

Livre-me de sua parte mais sagrada

Não preciso de um futuro a três

Diga que a verdade é mesmo uma simples tampa de tédio

Pois o mendigo que me escuta nunca passou fome na vida

Os teus olhos me lembram a neve

Os teus lábios me deixam seco como uma cascata de ódio

Já não sei se sou o ouvido do teu silencio

Nem reclamo do teu sono pesado

Apenas espero a cortina da sala balançar

Apenas para quebrar um minuto que ameaça a boca insana

Confuso, intenso.

Por favor, não peça para explicar o que ouço

Nem mesmo para sonhar a simples balada morta

Eu sou a decepção que você apostou todos os cavalos

E a covardia que você encontrou todas as vitórias

Leve-me daqui

Deixe-me viver ao lado do teu cais

Menina, ouça essa!

Eu estou nos anos sessenta

Só para compor uma estrutura que fará você dançar como uma louca

Que fará você buscar as desculpas

Todas as desculpas que minhas amídalas precisam

Ontem já é a melhor boca que percebi em teu risonho estandarte vulgar.

Rafael Santiago
Enviado por Rafael Santiago em 06/10/2009
Código do texto: T1851263