Poema 0733 - Minha cidade

Que mistério tem minha cidade, minhas ruas,

levo nas mãos um rosário sem fé,

sei quem sou, até bem antes do amanhecer,

as avenidas estão inquietas com seus homens correndo,

o sol no seu compromisso diário aparece dourado.

Existe um certo crepúsculo em pleno meio-dia,

perco parte do que resta da minha lucidez,

o cansaço rompe minhas vontades, a lua pára,

nenhuma luz brilha, a cidade dorme ao meio-dia,

o tédio vem na hora do almoço sem fome de sonhos.

Apontam os dedos na minha direção, são homens,

mulheres, crianças, todos apontam firme em riste,

sou sonâmbulo, caminho devagar minha vida,

o terror está fixo nos olhos insones,

sigo as horas, arrasto os pés descalços de esperança.

Hoje me sinto ao meio, antes de nascer, antes de morrer,

tenho sonhos desconhecidos das idéias, dos meus ideais,

mesmo assim me sinto com capacidade de ir além,

abrir as portas daquela cidade como se fosse um corpo,

navegar lento para fora da barriga da minha gestante vida.

Sou a parte possível do amor que tenho a repartir,

elevo ao céu uma forte prece espiritual,

aprendo devagar a rasgar os talvez(es) que marcam,

aceito a idéia de um Deus, o meu de fé,

desenho um corpo nas nuvens que o vento sopra.

Volto a caminhar mais apressado pela cidade nua,

o crepúsculo tem sua hora de passamento,

olho o silêncio preso nos galhos de arvores secas,

não consigo fingir que mudei, meus sentimentos afloram,

fui atendido ao pedido de misericórdia aos meus poucos brios.

Alguns mistérios caminham como sombras da cidade,

meu corpo, meu pobre coração aturdido de paixão,

as luzes dos postes acedem, são olhos que brilham,

as ruas cruzam a cidade, braços vazios de corpo que preenche,

ao que o sol ao meio-dia não se apaga, é amor... meu amor meu.

29/06/2006

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 29/06/2006
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