O Eclipse, o Naufrágio e a Amnésia

I.

Caminhava só.

Minha vida vazia era silêncio.

O espaço que sobrava na casa,

Eram cortinas rasgadas.

Um coração em pedaços.

Um limite no desespero que já vazou.

A cartomante falou de você:

Uma celebração, uma comoção,

Eu encontraria você na multidão.

Minhas linhas caminhavam o percurso,

Que as cartas haviam escrito.

De repente, fui encoberto de amor.

Um mar de perspectivas,

De tantas declarações.

Mas, a essa altura, eu já nem mais sabia meu endereço.

Já era tarde.

Você me tomou o espírito.

Você apareceu e eu não sabia o que fazer.

Já era tarde.

Na noite deste poema, eu passei a procurar um cais.

Todas as palavras eu separei;

Todo o comportamento eu estudei;

Todo passo eu ensaiei.

Já era tarde.

A febre só havia começado.

II.

Minha nau, sem direção estava,

Neste mar, agora, de incertezas,

Numa noite desnorteada de mim.

Meu livro já estava borrado.

Conheci uma demência,

Conheci a doença, o desvio,

O teatro dos teus sonhos.

Eu era fantoche manipulado,

Destrado, conduzido.

Vaguei pela corrente que você criou.

Fui jogado nos paredões da tua costa,

Até chegar na praia e morrer...

Fui ao purgatório entender meu caminho,

Compreender tua presença.

Me deram ópio, me tiraram as lembranças.

Renasci, como um ser de luz,

Que corre pela Via-Láctea,

Sem saber a tua existência

E o que eu viria fazer.

O que teria de te contar.

O que era para te ensinar.

Até o dia que te encontrei,

Novamente.

III.

Esqueci teu nome.

Você é um rosto desconhecido,

Que me ama, mas fujo de você.

Não falo com estranhos.

Não me entrego a estranhos.

Não amo estranhos.

E você diz:

"Eu te conheço de algum lugar..."

Digo ser engano.

Não acredito, não dou provas.

Não procuro sinais.

Na verdade, fui programado para fazer isso.

Meu amor foi deletado naquela praia

E eu queria te dizer a minha história,

Talvez assim, você entenderia.

Deixa eu te esquecer agora,

Eu preciso de um momento para desistir.

Pois, nasci com as cicatrizes da outra vida,

Com marcas que eu nem lembro mais,

Onde e quando foram tatuadas.

Deixa eu caminhar sem você.

Dê seus passos para longe de mim;

Na verdade, não nos conhecemos,

Estou a anos-luz de você

E acho que você deveria fazer o mesmo.

Não apague o sol.

Não nebule o dia.

Não faça chover;

Pois, você não me afeta mais.

Eu já havia dito:

Nem sei mais teu nome.

Alexandre Paiva
Enviado por Alexandre Paiva em 02/10/2009
Código do texto: T1844887
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