Memória de pele

Minha alma, hoje alquebrada, por tantas decepções vergastadas, redime-se: sente-se deveras premiada, ao lembrar dos passeios feitos com você, sem juízo, sem nada além de um sorriso, acompanhados pelo cheiro oloroso da dama da noite.

E, vindo através do vento, os débeis acordes daquela música que nos fazia juntar as cabeças, esfregando nossos cabelos, rindo de nós mesmos como tolos deliciosamente apaixonados.

Os Néscios e Pascácios dizem que o tempo não volta atrás. Mal sabem esses seres tão formais, que um simples aspirar de teu perfume, traz-me imediatamente ao lume os nossos beijos trocados,

Tão nítidos, tão reais, que te vejo disfarçada na mulher que me acena da calçada oposta, na atendente da loja de conveniência, sombras a me perseguir como uma não cumprida penitência, marcas gravadas na pele como antigas e doloridas cicatrizes de açoites.

Um amor verdadeiro rompe as barreiras impostas pelo tempo, liga o Ontem ao Hoje, usando a química como elo, tornando possível reviver cenas inteiras com a mesma intensidade do momento em que elas ocorreram. Nunca ocorre afastamento real para quem ama ou amou verdadeiramente alguém. A presença de quem amamos, mesmo que já não esteja conosco, estará sempre ao nosso lado, independente da distância física.

Vale do Paraíba, noite da terceira Segunda-Feira de Setembro de 2009

João Bosco (Aprendiz de poeta)

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 24/09/2009
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