Sinto-me permeável, sinto-me frágil…
Como um copo de vidro
Nas tuas mãos
Preferia estar numa mesa
Sem ninguém me tocar
Pois tenho um medo incrível
De quebrar
E de assim verter o líquido
De que sou feito
E deste se espalhar
Derramando assim o que sou
E os meus sonhos
Pelo chão
Frio
E que toda a gente possa pisar
E que são os sonhos nossos
Se os puderem calcar?
Como se os mundos
Que me compõem
Subitamente perdessem a sua harmonia
E decidissem
Entre eles chocar
Originando uma tempestade
Que não sei
Para onde me vai levar
Se para longe
Se para perto de Ti
Sou como uma nave
Em vagas alteradas
Ao sabor errático dos elementos
Mas sou um sobrevivente
E dessas tormentas
Aprendi a tomar provento
Nos raros momentos
Em que a minha fortaleza
Abre brechas
Que me deixam ver
Não os crepúsculos
Que teimam em me rodear
Mas a insofismável
Beleza
Que está lá fora
E que nestas alturas sensíveis
Aprendi a contemplar
Pois se há
Sempre um ir
E um voltar
Amanhã será um dia melhor
E eu cá estarei
Para o usufruir
Para o suco da vida beber
E da melhor das maneiras
O aproveitar
Mas hoje…
Hoje
Sinto os meus bocados coesos
Partidos em mais de mil
Sinto o vento estrelar na minha pele
Demasiado sensível neste momento
Sinto-me permeável, sinto-me frágil…