Sinto-me permeável, sinto-me frágil…

Como um copo de vidro

Nas tuas mãos

Preferia estar numa mesa

Sem ninguém me tocar

Pois tenho um medo incrível

De quebrar

E de assim verter o líquido

De que sou feito

E deste se espalhar

Derramando assim o que sou

E os meus sonhos

Pelo chão

Frio

E que toda a gente possa pisar

E que são os sonhos nossos

Se os puderem calcar?

Como se os mundos

Que me compõem

Subitamente perdessem a sua harmonia

E decidissem

Entre eles chocar

Originando uma tempestade

Que não sei

Para onde me vai levar

Se para longe

Se para perto de Ti

Sou como uma nave

Em vagas alteradas

Ao sabor errático dos elementos

Mas sou um sobrevivente

E dessas tormentas

Aprendi a tomar provento

Nos raros momentos

Em que a minha fortaleza

Abre brechas

Que me deixam ver

Não os crepúsculos

Que teimam em me rodear

Mas a insofismável

Beleza

Que está lá fora

E que nestas alturas sensíveis

Aprendi a contemplar

Pois se há

Sempre um ir

E um voltar

Amanhã será um dia melhor

E eu cá estarei

Para o usufruir

Para o suco da vida beber

E da melhor das maneiras

O aproveitar

Mas hoje…

Hoje

Sinto os meus bocados coesos

Partidos em mais de mil

Sinto o vento estrelar na minha pele

Demasiado sensível neste momento

Sinto-me permeável, sinto-me frágil…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 23/09/2009
Código do texto: T1826098
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