FUGA

Meus pensamentos voavam intensos,

queria liberdade da opressão sinistra,

que ofuscava meu coração entristecido,

não dando espaços para se manifestar,

e gritar mesmo que não fosse ouvido,

pois tinha inquietações que me feriam,

diante de maldades que presenciei.

Queria chorar por uma criancinha sofrida,

sem ninguém para ao menos lhe dar amor,

rejeitada já no ventre materno da mãe,

tão virulenta foi sua concepção sinistra,

e que o pai ausente nada lhe deixou,

sómente resquícios de suas brutalidades,

e assim veio ao mundo para só sofrer.

O seio que buscava para saciar sua fome,

não tinha vitalidades diante das recusas,

que a mãe lhe negava por não ter amor,

pois odiava o pai que violentou seu corpo,

e depois de saciado nem adeus lhe deu,

e já no útero materno percebia a rejeição,

ouvindo maldições e nunca canções de amor.

Fuga para amparar o velhinho tão sofrido,

ser bengala para guiar seus passos vacilantes,

tão fracos pela perda de suas vitalidades,

que o tempo algoz deixa sempre suas marcas,

e as tristezas nunca cessam de o abater,

suportando ainda as dores que o acompanham,

e a solidão que é triste pelo abandono tão cruel.

Libertei assim os grilhões que me sufocavam,

Busquei sorrisos diante de tantas amarguras,

pois amparei no cólo a criancinha que então sorriu,

e enxuguei as lágrimas do velhinho em desespêro,

que me deu as mãos e caminhamos até juntos

e notei sorrisos disfarçados que me alegrou,

e os passos vacilantes já não existiram.

22-09-2009