Olhos nos olhos
Olhos nos olhos
Queria falar lindamente, em versos bem diferentes, de como é sentir o Amor.
Busquei apressadamente, em todos os dicionários, melhorar o meu vocabulário.
Fiz votos secretos, fiz figas, andei por rimas antigas: achei e guardei num escapulário, com zelo de Santo Sudário,
O teu olhar indiscreto, o teu sorriso sem jeito, o beijo nos teus cabelos e o canto do beija-flor.
Uma orquestra de guinés, em seu alegre alarido, faz coro prá minha toada; bambus engalanados, ypês floridos, em festa, aves em busca de ninho.
Um vento frio de Inverno, chuva querendo chegar, embaixo do caramanchão, você de olhos postos no chão, dá liberdade ao sonhar;
Levanta a cabeça a medo, embarco no teu olhar nadando por teus segredos; encontro uma dama reclusa, agindo de forma confusa, entre o se dar e negar.
É hora de ir embora, vou caminhando ao teu lado, hábito não consolidado, guardando teu vulto comigo, beijo-te de leve a orelha - já não estou mais sozinho.
O véu da noite acoberta uma conversa mais solta, em meio a propostas loucas, usas negaças bem poucas, despe-te de tuas sacras roupas, ousas prazer mais completo.
Isto me leva a pensar: talvez o distanciar, de modo paradoxal, traga você prá mais perto, torne teu amar mais real, teu beijo muito mais quente, tua voz bem mais sensual.
Não busco analisar porque te portas assim; tenho de mim para mim, que esta tua forma de ser, é receio de bem querer, de quem se esconde no meio e evita atingir o final.
É sabotagem cruel, esconder debaixo de véus, a vontade de ser feliz, trocar o pote de mel por uma taça de fel, deixando o amor por um triz; é uma escolha infeliz, um rumo nada correto.
Tenho para mim que a vida é tão cheia de imprevistos que não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar oportunidades de sermos felizes, de adiar para um imponderável Amanhã o que está em nosso alcance realizar no Hoje. Sufocar o desejo de viver dentro de nós equivale ao cometimento de um suicídio lento e contínuo, uma negação inaceitável de nossa mais importante missão na Terra: viver com plenitude.
Vale do Paraíba, madrugada da primeira Segunda-Feira, Julho de 2009
João Bosco (Aprendiz de poeta)