SUPOSIÇÕES
Suponha que no mundo exista dois corações enamorados,
Mas, ao mesmo tempo pela mágoa ressentidos,
Pois se acreditam rejeitados,
Quando, na verdade, são inteiramente correspondidos.
Suponha agora que, à distância, ele a observe com ternura,
Mas, quando os olhares se encontram por ventura,
Destilam ódio ao olhar que lhes procura,
Pois o orgulho não lhes permite confessar a verdade do que sentem.
Suponha então que ela se censure bravamente,
Porque seus esforços para esquecê-lo são indiferentes,
E toda noite rogue a Deus para que apague as lembranças de sua mente,
Mas basta um encontro casual para que qualquer censura ou esforço sejam em vão.
Suponha que cada um culpe a si mesmo pelo fim da relação,
Mas, publicamente, acusem um ao outro sem compaixão,
E o rancor que já carregam é alimentado pelo jogo de incriminação,
Afastando-os, desta forma, cada vez mais.
Suponha, por conseguinte, que tenham buscado refúgio em um novo amor,
Mas tal subterfúgio só os fez se gostarem com ainda mais ardor,
E todas as artimanhas que usaram para abrandar seu imenso torpor,
Apenas lhes serviu para ferir outras pessoas.
Suponha por fim que tudo isto não seja mera suposição
E que de fato exista estes dois corações que se querem loucamente,
Mas como não ousam assumir a real essência de sua paixão,
as reviravoltas do mundo lhes tornarão cada vez mais distantes
Até que estejam inalcançáveis, inatingíveis estes orgulhosos amantes.