Homem ao Mar
Meu carregamento de desespero induz-me a navegar num barco de sonhos por insulas encantadas.
Atraindo-me a ouvir canções de sereias - lindas as sereias e suas apaixonadas canções.
Canções ternas, capazes de encher de ternura os mais empedernidos e duros corações.
Corações de homens aflitos, como eu, órfãos de amores, de vida vazia, sem nexo, parada.
Adota-me, bela sereia! Faz de mim, marujo perdido, à deriva neste mar de incompreensão,
Teu ser mais querido. Apazigua com tua voz, doce como o mel, as feridas ainda candentes de meu coração,
E faz-me de novo mergulhar nas inebriantes águas tépidas do carinho, do amor feito com a força criadora da paixão.
Aí então, refém das algemas de teus encantos, levar-te-ei por todos os cantos, a provar de tuas mentiras-verdades, atracado no porto de tua Ilusão.
Sonhar, sonhar e me inebriar com teu canto, far-me-á finalmente secar este meu pungente pranto
Deixado como espólio indesejado de amores outros. De teu amor serei fiel depositário, guarda atento.
Protegê-lo-ei com o manto lúdico dos amantes, para que deste mundo externo nada venha de destoante
A tornar encrespadas as calmas ondas nas quais te refestela, serei de ti eterno sentinela, e afogarei em teus sargaços os meus navios de tormentos.
Não mais voltarei a Terra, aonde o desespero impera. Aqui, neste Universo de magia, farei de ti minha viva poesia – um beijo, um verso a cada instante.
Entrego em tuas mãos, minha sonhada sereia, o meu amor renovado, em um zodiacal anel incrustado – recolha-o e protege-o neste teu colo dourado - guarda-o em teu acalanto.
O sonho é o motor que impulsiona a vida, que dá cor a nossa existência, fazendo com que seja muito menos árido o nosso viver neste mundo em que a moeda dominante se denomina sofrer.
Vale do Paraíba, madrugada do segundo Sábado de abril de 2009
João Bosco