Morro do Afonso

O dia vai ser bom

O galo já vai cantar

Pessoas formigueiam

Da janela posso observar

Subindo e descendo

Com o trabalho ascendendo

Neste novo dia que já vai nascendo

Café pequeno

Um beijo pleno

É um bom início

Para o dia aproveitar

Eis o meu sorriso

Belo princípio

Com um ovo frito

O desjejum vou tirar

Sacola nas costas

Sandália remendada

Camisa limpinha

Porém rasgada

Pé na estrada!

Ou melhor, dizendo:

Na escada

Vou descendo devagar

Segurando nas paredes

Para o limo não me derrubar

Opa!

Segurei num buraco feito por um tiro

Agora já achei

Não está mais perdido

Pelo beco eu desço

Cantando meu pagode

Policia me para

Calei minha boca

Para não tomar sacode

Labirinto não!

Chamo de ruela

Aqui é onde eu moro

A minha passarela

Olho para o céu bonito

Com fio de alta tensão.

Culpa da crise

Jeitinho da população

As pessoas dizem que

Eu não moro,

Me escondo!

Como o povo mente!

Aqui, carro e galinha

Convivem pacificamente

Tenho orgulho de onde moro

Pois neste lugar moraram os melhores

Profissionais do mundo!

Ronaldo e Romário e tem até Edmundo

Pedreiro uma ova!

Construtor civil!

Erguer casas em cima de montanhas como eu?

Ninguém ainda viu!

Num hotel em Copacabana

Você tem a vista para mar

Eu nem preciso disto

Em cima da minha laje

Perto da caixa d’água

Eu também posso avistar

Antes do serviço,

O copo da amarelinha vai soar

Mas só bebo socialmente

Pra patroa não chiar.

Mais um dia de trabalho

Onde nasci e fui criado

Simples, mas feliz

E no final, recompensado.