Guarda-me no teu coração...

Não importa qual seja a estação do ano,

Se chove ou se faz sol....

Sejam as noites estreladas ou escuras

E os dias serenos de tanto azul,

Ou os cinzentos...

Guarda-me no teu coração...

Só importam as lembranças,

As lembranças boas de um tempo que passou

E não mais virá...

Guarda-me no teu coração...

Aconchega-me nas lembranças

E que jamais falhe a memória

De um minuto sequer, destes instantes...

Fomos os amantes mais felizes,

Sem cometer deslizes

Ou nos magoar...

Lembra-te de minhas mãos, sempre tão frias,

Que nas tuas mãos soubeste agasalhar...

Lembra que meu corpo fremia de emoção

Ao ouvir a tua voz,

Ao mergulhar nos teus olhos cor de mel

Que me acolhiam como lago morno e sereno...

- E o quanto eles falavam

As palavras que não precisavam nem ser ditas...

Lembra-te de meu rosto sorridente

Que jamais derramou uma lágrima em tua frente

Para não te entristecer...

Lembra-te dos cabelos esvoaçantes

Com os quais brincavas com carinho,

Inocentemente...

Lembra-te da voz que corria no vento para te alcançar

E da menina, quase mulher, que em teus braços se ia aconchegar...

Lembra-te que tínhamos

Momentos lindos

Caminhando por bosques e jardins

Onde me dizias baixinho,

Bem baixinho: “Minha flor...”

Lembra do primeiro beijo que me deste,

Na testa,

E eu fiquei cheia de rubor...

Ah! Velhos tempos, diferentes dos de agora...

Me levaste de presente brincos

Que eu guardei e jamais botarei fora...

Irão comigo na hora derradeira...

O perfume, os discos de vinil, as cartas

Que vinham nos envelopes azuis

E que eu respondia, perfumadas...

Os desenhos de brinquedo que eu fazia do teu rosto

Imitando um bichinho

Que faz parte do teu nome...

E desenhava nas cartas bonequinhas, com lágrimas nos olhos,

Dizendo da minha saudade...

De uma folhinha de árvore...

Um papel de bala...

- Relíquias que da vida me restou...

- Guarda-me no teu coração...

E quando a saudade bater forte

Busca no “Pequeno Príncipe”

De Exupéry

As respostas que te dou...

Lembra-te de quando me esperavas

Na saída do colégio...

E quando eu ia te encontrar na Rodoviária

Da velha cidade da fronteira,

Aqui no sul...

Lembras que passeavas comigo na pracinha

Onde tinha um laguinho

com uma ponte tão linda (para nós...)

E ali tiravas fotos de mim...

Havia tanta beleza e romantismo

Como não há mais hoje aqui...

Quanto tempo para pegares minha mão e me abraçares...

E o beijo que me deste e que, timidamente, correspondi...

Os cinemas... Nossa música...

E das lembranças que tive... Envelheci,

Guardando sonhos que alimentavam meu viver,

Dia após dia...

Pensando em ti...

Por todas estas coisas que a olhos incautos

Parecem apenas bobagens hoje,

Mas que eu vivi...

E como fui feliz!...

E como sou,

Por ter estas lembranças

Gravadas dentro em mim...

- Então, por tudo isso que vivemos

E pelo amor que trazemos,

Eu te peço:

- Não te esqueças de mim...

Guarda-me no teu coração

E não permitas jamais

Que me roubem de ti...

Guarda-me no teu coração...

É só o que eu tenho... É só o que temos...

Não deixa que me apaguem dentro de ti...