ÚLTIMO ARREBOL
Último arrebol
Nosso amor quase morreu,
Jovem abandonado no ninho.
O vento forte o derrubou,
E no chão ele ficou a piar.
O tempo foi passando,
Ele conseguiu se safar,
Do gato guloso a miar,.
Perto de seu cantinho
Rolou como folha seca,
Tão pequenino pobrezinho,
Sem conhecer o carinho.
Desde que caiu do ninho.
O sol do outono queimava,
Seus olhinhos curiosos,
O frio do inverno castigava,
Seus pezinhos medrosos.
Até que a grande mãe,
Natureza em seu canto de amor,
Enviou-lhe a primavera,
E a beleza das flores.
Numa manhã cinzenta sem sol,
Ele ensaiou seu primeiro trinado,
Bateu as asas mais fortes.
Estufou o peito esqueceu a dor.
Já era moço feito, pássaro cantor.
Emprestou-me seu calor,
E abraçou-me com seu corpo,
Cobrindo minha nudez tão tímida.
Em seu anseio de novato,
Quase cometeu um pecado,
Esqueceu-se de todo meu recato,
E abriu-se em seu esplendor.
Bati as asas assustada,
E corri para a liberdade.
Não queria sentir-me presa,
Em vão jovem e indefesa,
Poderia ser vítima de um gavião,
As primaveras partiram,
E os verões se findaram
Encontrei pousado num velho galho,
O mesmo pássaro cantor,
Que outrora com seu trinado
Encheu meu peito de amor,
Que ficou guardado no coração.
Causando uma doce saudade,
Misto de ferida indolor,
Ah! Velho pássaro cantor,
O tempo passou ligeiro!
Mas meu corpo ainda conhece,
As notas do amor primeiro.
O tempo este grande senhor,
Tudo sabe tudo conhece.
Todas as palavras que não te disse,
Mas deixei soltas no vento,
Onde revelava meu sentimento,
E a saudade daquele nosso momento.
Se esta tarde o vento bater mais forte.
Venha através do caminho do sol,
Naquele antigo galho de laranjeira.
Poderemos sentir o perfume das flores,
Relembrar nossos jogos de amores
Pulando de galho em galho
Escolhendo o melhor local
Para assistir talvez o último arrebol.