Residencial
Abre as portas pro meu peito lhe alcançar
Abre o peito, forra o leito pra eu deitar
Que os meus olhos vão lhe colher raios de sol
E entregar na sutileza do ocaso
E nossos corpos estirados no lençol
Ensopados de um febril torpor
Estátuas talhadas ao acaso
Jardins em pleno inverno a botar flor
Inusitados e inesperados
E seus olhinhos laminados de amor
Escorrerão sobre as paredes do meu corpo
Como minhas mãos escorrem em seus pilares
Como minha mão se perde em seus andares
E quando se cansar de tênues carinhos
Perguntarei porque levanta e me abandona
E haverá um vulto sobre a nossa cama
Que é sua ausência e a falta que faz
E se disser que não me ama mais
Então minhas gavetas baterão pés
E os relógios hão de parar de pronto
E serei passado seu, só desencontro
E a cama tomará mais formas novas
E meu grito preso ao teto rebaixado
Tomará ciúmes do próximo homem
Que surgir feito uma sombra, ao teu lado
E sem gota alguma de ressentimento
Despedir-nos-emos até nunca mais
E nenhum remédio e nenhum ungüento
Curarão a úlcera no meu peito vago