Que a Vida nunca tem Fim
Quando nasce uma Figueira
Numa manhã de janeiro
Se espalha no mundo inteiro
A notícia alvissareira
E se preparam as poedeiras
Que há alicerce pros ninhos
Amam os machos passarinhos
Às suas amadas fêmeas
Que todas são Almas gêmeas
Neste que é um mundo sozinho...
E eu que sou dos voadores
Cruzado com os vegetais
Vôo com asas de folhas
Flutuo com aéreas bolhas
Sobre estrelas-animais
E quando bebo os movimentos
Sou da estirpe dos ventos
Que voam, mas têm raiz
Não me extrai a matemática
Sou da cinética e estática
Me mexo quando é preciso
Sou um espelho sem narciso
Que se enxerga a si mesmo
Sou um pleonasmo; um torresmo
Um supra-sumo de nada
Me religo à anarquia
E me ajoelho à tirania
Que me liberta do fim
Quando eu não me arrependo
Por continuar me vendendo
A essas Figueiras nascendo
E a tantos ovos morrendo
Para a Vida não ter fim...
Por isto é que Amo tanto
Os ovos dessas Figueiras
E essas flores-passarinhas
Que voam de suas rameiras
Então me peso e boto preço
No que fiz até aqui
E me absolvo e condeno
Não porque envelheci
Me acuso é de ser tão velho
Se ainda sou tão Guri...
Se não tomarem por ofensa, dedico este torresmo ao meu Amigo "Gui" e a toda a sua Amiga Família, exemplos de cidadania e de espírito de comunidade, nesta nossa Guaíba de tantas Figueiras e tantos ovos bem chocados.