MERCADO PERSA
tendo juntado, eu, dinheiro para comprar um camelo,
fui, certa tarde, até ao mais próximo mercado persa;
contudo, num mercado assim, sempre há muito apelo,
para se adquirir o que se quer é preciso ter conversa;
lá chegando, notei que a multidão estava alvoroçada,
e que não havia aquele pregão usual de comerciante;
um belo cavalo árabe, em leilão, era a peça cobiçada,
e o leiloeiro, bem à vista, gritava com voz tonitruante;
esqueci eu o camelo frente àquele maravilhoso corcel,
me decidi a enfrentar os lances, com a ajuda do Céu;
vozes vociferavam, parecia que tinham vindo de Babel,
quando se deu grande comoção, um sonoro escarcéu;
trombetas soaram, e uma tropa de cavalaria apareceu,
fazendo a multidão correr para se proteger do atropelo;
feita a ordem, a liteira surgiu, e belo Vulto dela desceu,
vislumbrei uns olhos azuis, e arrepiou-se o meu cabelo;
acho eu que todos sabiam, decerto, quem era a Figura,
pois que se prostraram, num evidente sinal de respeito;
confesso que o que senti ao vê-LA na memória perdura,
o frisson que senti ficou no coração que trago no peito;
os partipantes dos lances agora se quedavam calados,
mesmo eu, ali, ficara mudo mas era por estar enlevado;
ELA, pois era figura feminina, abriu uns vasos selados,
deles jorraram moedas de ouro, num montante elevado;
o pregoeiro, visivelmente contente, fez um salamaleque,
libertou o Ginete de suas amarras, e pôs-lhe os arreios;
retirando o véu, que A encobria, pegou ELA belo leque,
e apontando o Cavalo, ordenou-me montar sem receios;
transido de espanto, com toda a multidão ali a me fitar,
obedeci Seu comando, subi na sela, as rédeas peguei;
olhei-A, então, e o Seu olhar não me fez mais duvidar,
era ELA aquele Alguém por quem a Vida toda esperei;
a mais formosa dentre as belas Filhas do Califa de Bagdá,
viera ELA até ali - contou-me logo - por causa do Fado;
este, na voz d'um Bardo, falara-LHE das Bodas de Caná,
e de como ELA iria encontrar, finalmente, o Seu Amado;
talvez que se Sherazade houvesse sabido dessa nossa História,
as 'Mil e Uma Noites' falariam desse AMOR, de sua eterna Glória.
Moacir et Selena 2005
brilhe a vossa LUZ!
qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amada entre as filhas.
(Cântico dos Cânticos 2:2)
***** glossário *****
Sherazade: (Shahrzad em persa) é uma rainha sassanida que conta uma série de histórias ao seu malévolo marido, o Rei Shahryar, para protelar sua execução. As histórias são contadas num período de mil e uma noites, e cada noite ela termina a história com uma situação de suspense, forçando o Rei a mantê-la viva por mais um dia. As histórias individuais foram criadas ao longo de séculos e em vários estilos, tornando-se famosas ao seu jeito. Exemplos notáveis incluem Ali Baba e os Quarenta Ladrões e As Sete Viagens de Simbad, o Marujo. Essas histórias foram reunidas numa só publicação denominada O Livro das Mil e Uma Noites (Mil e Uma Noites, 1001 Noites Árabes), constituindo-se num épico literário do Oriente Médio medieval.
tendo juntado, eu, dinheiro para comprar um camelo,
fui, certa tarde, até ao mais próximo mercado persa;
contudo, num mercado assim, sempre há muito apelo,
para se adquirir o que se quer é preciso ter conversa;
lá chegando, notei que a multidão estava alvoroçada,
e que não havia aquele pregão usual de comerciante;
um belo cavalo árabe, em leilão, era a peça cobiçada,
e o leiloeiro, bem à vista, gritava com voz tonitruante;
esqueci eu o camelo frente àquele maravilhoso corcel,
me decidi a enfrentar os lances, com a ajuda do Céu;
vozes vociferavam, parecia que tinham vindo de Babel,
quando se deu grande comoção, um sonoro escarcéu;
trombetas soaram, e uma tropa de cavalaria apareceu,
fazendo a multidão correr para se proteger do atropelo;
feita a ordem, a liteira surgiu, e belo Vulto dela desceu,
vislumbrei uns olhos azuis, e arrepiou-se o meu cabelo;
acho eu que todos sabiam, decerto, quem era a Figura,
pois que se prostraram, num evidente sinal de respeito;
confesso que o que senti ao vê-LA na memória perdura,
o frisson que senti ficou no coração que trago no peito;
os partipantes dos lances agora se quedavam calados,
mesmo eu, ali, ficara mudo mas era por estar enlevado;
ELA, pois era figura feminina, abriu uns vasos selados,
deles jorraram moedas de ouro, num montante elevado;
o pregoeiro, visivelmente contente, fez um salamaleque,
libertou o Ginete de suas amarras, e pôs-lhe os arreios;
retirando o véu, que A encobria, pegou ELA belo leque,
e apontando o Cavalo, ordenou-me montar sem receios;
transido de espanto, com toda a multidão ali a me fitar,
obedeci Seu comando, subi na sela, as rédeas peguei;
olhei-A, então, e o Seu olhar não me fez mais duvidar,
era ELA aquele Alguém por quem a Vida toda esperei;
a mais formosa dentre as belas Filhas do Califa de Bagdá,
viera ELA até ali - contou-me logo - por causa do Fado;
este, na voz d'um Bardo, falara-LHE das Bodas de Caná,
e de como ELA iria encontrar, finalmente, o Seu Amado;
talvez que se Sherazade houvesse sabido dessa nossa História,
as 'Mil e Uma Noites' falariam desse AMOR, de sua eterna Glória.
Moacir et Selena 2005
brilhe a vossa LUZ!
qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amada entre as filhas.
(Cântico dos Cânticos 2:2)
***** glossário *****
Sherazade: (Shahrzad em persa) é uma rainha sassanida que conta uma série de histórias ao seu malévolo marido, o Rei Shahryar, para protelar sua execução. As histórias são contadas num período de mil e uma noites, e cada noite ela termina a história com uma situação de suspense, forçando o Rei a mantê-la viva por mais um dia. As histórias individuais foram criadas ao longo de séculos e em vários estilos, tornando-se famosas ao seu jeito. Exemplos notáveis incluem Ali Baba e os Quarenta Ladrões e As Sete Viagens de Simbad, o Marujo. Essas histórias foram reunidas numa só publicação denominada O Livro das Mil e Uma Noites (Mil e Uma Noites, 1001 Noites Árabes), constituindo-se num épico literário do Oriente Médio medieval.