Dái
By C.J.Maciel
Dái a minha oportunidade de ti.
De ti ver, de ti ter, de te ouvir, de ti tocar,
De ti sentir em mim ou, ao menos, em minha metade.
Dái a ti oportunidade de mim.
De me ver, de me ter, de me ouvir, de me tocar,
De me sentir em ti ou, ao menos, em tua metade.
Dái a todo momento meu o teu momento,
Nem que seja este um momento estanque, parado,
Pairado no tempo da mente,
Onde as involuções infantis existem, e a elas,
Só a irresponsabilidade da imaginação.
Dái as possibilidades, a possibilidade de criarem asas.
Não desfaças o que tens,
Permita-se, experimente-se, solte-se das amarras que você criou.
Dê-se um presente:
O presente, o passado e o futuro do prazer,
O ter em mãos o que ainda não é teu por completo.
Sinta-se monge isolado, medite-se, veja-se, reporte-se a momentos felizes,
Construa pontes; destrua outras; encontre caminhos, não os alternativos,
É que estes não se adéquam a nada porque assim o são,
Aliás, se adéquam sim, ao nosso comodismo e medo, a nossa fuga de nós mesmos,
Ao medo de não sofrer, de não arriscar, de não querer querendo,
De não ter tendo, de não sentir sentindo, mas de sorrir sorrindo,
Só pelo fato de poder fechar os olhos e lembrar.
É assim, meu amor: daí a vida, oportunidades existem e quando não há, criamos,
É preciso estar acostumado a criar para poder aceitar com desprendimentos.
Só aceitamos pronto, e pronto!
É que é mais fácil assim.
Negamos a preparação de caminhos, de oportunidades,
Todo caminho, demora a ser percorrido e os atalhos, não valem a pena,
Porque, com eles, deixamos de apreciar detalhes da paisagem da vida.
Gosto destes.
É que estes preparam meu caminho,
E me aproximam tanto que ti, que sinto tua respiração, mesmo distante.
Daí a ter você, é te permitir, é me permitir, é nos permitir.
Ter você é a liberdade de te deixar ir e, com meu choro, único e profundo,
Colher a lágrima que cai; regar a esperança de ser monge isolado,
De ser oportunidade de ti,
Que é oportunidade de mim,
De ti ver, de me ver,
De ti ter, de me ter,
De me sentir em ti,
Ou, ao menos, a nossa metade que se faz, por si só, inteira.