Morena flor

Morena flor

Inseridos num mesmo bloco de argila,

De mãos dadas numa mesma caminhada.

Sentados, lado alado naquela calçada,

Ou vagando inconscientes por ruas de nossa vila.

Nossos caminhos se cruzavam obstinadamente

A cada passo, a cada olhar incisivo.

Mas um véu cobria-nos olho e mente

Ao tempo, ansioso instante decisivo.

Seguimos como zumbis a mesma estrada;

Insensíveis aos toques dos sinos.

Tu não me enxergaste posto à entrada,

Eu não ouvia tua voz entoando hinos.

Ah! Mas o destino, esse velho renitente,

Imprevisível como a morte, essa pantera,

Laçaste-me com os cabelos negros reluzentes

Da morena flor que agora às noites me espera.

Aqueles olhos negros que não me viam antes,

Agora me incendeia a alma a cada pestanejar;

Que no inebriante lume do olhar

Refletem lascívia indômita a todo instante.

Agora imerso nesse mar profundo,

Que são os lábios da doce amada

Escalo em seu corpo as ondas delgadas

Nado até as alvas estrelas d’outro mundo

.

Logo me envolve num abraço forte...

Posso sentir seu coração bradando

Num coral uníssono invocando

A deus que nos una, até que nos separe a morte.

Já não vagueio só por entre feras,

Vejo, então, que felicidade não é só fragmentos.

Mas um estado absoluto em momentos

Com a morena flor que agora às noites me espera.

Danty Casanova
Enviado por Danty Casanova em 29/08/2009
Reeditado em 23/04/2010
Código do texto: T1781290
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