No Calar das Bocas 
 
Sentindo uma agulhada 
profunda no coração,
calando a todo som.
E então, nada se entendeu, 
porque nada se disse.
Sentindo um nó 
entravado na garganta, 
mutilando a fala.
Sentimentos que não ganharam 
a forma de palavras,
que tentaram existir, 
mas foram um mero murmúrio,
um balbuciar moribundo, 
morto prematuramente.
Foram tantas possibilidades 
e nenhuma realização.
Foram tantas oportunidades 
e rejeitaram-se todas.
De tal forma que ao final de tudo 
nada se disse.
Dominando a tudo 
um calar-se obtuso e consentido.
Criando mudez e surdez, 
torturando com o silêncio perverso.
Envenenando-se com os escombros 
das palavras mortas.
Intoxicando-se com os restos
de suas sílabas sobreviventes.
Palavras que morreram 
pela falta de estímulos do coração,
que definharam, desanimadas 
com os diálogos dissonantes,
que se apagaram nas batalhas inúteis,
nas Torres de Babel particulares.
Melhor reconhecer o fim 
daquilo que de fato já acabou.
Melhor dizer o indesejado adeus, 
queimar cartas e fotografias.
Fazer do rejeitado presente, 
apenas passado a ser esquecido.
Vendo a fogueira arder-se 
e depois apagar-se, restando cinzas
que jogadas ao vento desaparecerão, 
fingirão nunca terem existido
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 22/08/2009
Reeditado em 14/12/2019
Código do texto: T1768783
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