No Calar das Bocas
Sentindo uma agulhada
profunda no coração,
calando a todo som.
E então, nada se entendeu,
porque nada se disse.
Sentindo um nó
entravado na garganta,
mutilando a fala.
Sentimentos que não ganharam
a forma de palavras,
que tentaram existir,
mas foram um mero murmúrio,
um balbuciar moribundo,
morto prematuramente.
Foram tantas possibilidades
e nenhuma realização.
Foram tantas oportunidades
e rejeitaram-se todas.
De tal forma que ao final de tudo
nada se disse.
Dominando a tudo
um calar-se obtuso e consentido.
Criando mudez e surdez,
torturando com o silêncio perverso.
Envenenando-se com os escombros
das palavras mortas.
Intoxicando-se com os restos
de suas sílabas sobreviventes.
Palavras que morreram
pela falta de estímulos do coração,
que definharam, desanimadas
com os diálogos dissonantes,
que se apagaram nas batalhas inúteis,
nas Torres de Babel particulares.
Melhor reconhecer o fim
daquilo que de fato já acabou.
Melhor dizer o indesejado adeus,
queimar cartas e fotografias.
Fazer do rejeitado presente,
apenas passado a ser esquecido.
Vendo a fogueira arder-se
e depois apagar-se, restando cinzas
que jogadas ao vento desaparecerão,
fingirão nunca terem existido