ALGEMA A MINHA MÃO

Como poderia eu estar pejada?

Que fiz para originar esta cara zangada?

Eu sei, desconfias de mim!

Amaina a cólera, olha o mundo e seus lumes,

Não te percas no inferno dos queixumes,

Nem cantes esta ladainha sem fim!

Não te traí, o meu caráter eu conheço,

Esta torpe acusação eu não mereço,

Ter amizades não é prevaricar,

Mas para ti é sinônimo de crime,

Este sentimento tão sublime,

E a troca de um olhar...

Não te lembras, claro, esqueceste,

Quando por outra, desapareceste,

E por ciúme perdi o hábito de sorrir?

Agora me julgas com raiva intensa,

Como severo juiz determinaste a sentença,

Mas, à ré, não queres ouvir...

Eu daria minha vida,

Para que entendesses a minha lida

De dores e sofrimentos evitar,

De não partir o elo de amizade tão formosa,

De que tudo voltasse a ser cor-de-rosa,

E, ao amigo pivô não ver chorar...

Deixa de bobagens! Prende-me nos teus braços,

Vivamos de novo em longos amassos,

Reforcemos nossa estremecida paixão:

Deixa que te beije, levanta esta fronte altiva,

Porque, por ti, tenho a alma cativa,

E com a tua, algema a minha mão...