A rua onde moro
A rua onde moro é barulhenta como uma cachoeira
Tem moradia de todos os estilos e olham-me à noite
Quando minha dor o ponto culminante passa.
Tem pontos sem luz e infames, de onde voam papeis
Temendo o vento, tem estampidos que matam.
Na rua onde moro os gatos morreram todos, os cães
Que ladravam desapareceram, as arvores secaram
Tentando escapar à ação dos homens, a rua onde
Moro é pavorosa...
No templo não há ninguém de joelho adorando os santos,
Temendo a sombra que surpreende. A rua onde moro
Tem refletores instalados, mas não acendem, lá o filho
Desrespeitou o pai porque não queria ser seu filho.
Na escuridão da moradia nada brilha. Na rua onde moro
Não há pecado, só pecadores, os homens são heróis.
Os meninos são grandes, tem meninas grávidas,
Os felinos partiram não sei para onde...
Há fuga para manter a vida, arrependimentos,
Provocação e traçantes cortando o céu, aniquilamento
E negação, trata-se de uma rua como as demais,
Com os mesmo problemas cotidianos, tristeza noturna.
É a rua onde vivo minha aflição, não há eco vindo
Das cavernas como no passado, olhando do meu quarto
É uma rua que inspira amor, vontade de fugir
Do zumbido carregado das amas de fogo
Há saudade do tempo que se foi...