Estação

Um sopro, um momento, um tempo que não existiu

nos sentidos do corpo que em versos nunca foi declamado,

fragmentos das lembranças de uma poesia em tranças

tramando o destino dos que pensam já ter tudo alcançado.

E corre a vida nos trilhos há tempos abandonados,

sobe as serras seguindo o caminho das velhas calçadas,

segue esperança encarrilhada no riso que ficou apagado,

nos sonhos rendados vê-se a moça em espera encantada.

Ouve-se ao longe o som antigo da Maria fumaça,

vestido de anjo, vem o maquinista alimentando a fornalha

e o coração da moça, já em chamas acinzentadas,

faz novo aceno com o lenço onde suas lágrimas foram choradas.

E o que deveria ser o encontro de almas um dia separadas

torna-se apenas mais um dia na espera de muitos que virão,

sobe as serras a esperança em linhas cinzas, abandonadas,

pois a estação é agora inverno sem o sol que faz verão.

28/05/2006

Aisha
Enviado por Aisha em 14/06/2006
Código do texto: T175348