SOMBRAS DE AMOR
SOMBRAS DE AMOR
J.B.Xavier
...e se em ti repousa a desesperança,
Se de ti vem o gelo do olhar que me manieta,
Por que então ainda repercutes em mim,
Por que minha alma não se aquieta
E ainda troam teus risos, como filigranas de cristal,
Ecos, ressonando nas paredes de uma catedral...?
Se deverias ser silêncio,
Por que então ainda vibras as cordas de minha lira?
Se em ti jazem inertes meus mais sublimes momentos,
Minhas maiores perdas, meus frágeis esquecimentos,
Por que meu pensamento ainda por ti delira?
Se deverias ser ausência,
Se deverias ser esse vazio em que me deixaste,
Por que então ainda me preenches as noites
E me vens como visão diáfana,
Como fadas, empunhando açoites?
Se deverias ser apenas uma vaga lembrança
Uma visão difusa, que aos poucos no tempo desaparece,
Por que o tempo não escoa quando penso em ti?
Por que teu sorriso não me esquece?
Ah, recordações! Velas acesas de um sublime ritual
Onde me rendo a esse meu mister:
Te ver por onde ando, te lembrar por onde passo,
Fazer de ti o centro desse compasso
Onde a mulher é uma fada e a fada é uma mulher...
E se enfim, não posso te esquecer,
Que sejas então tu o meu calvário,
Das dores mais felizes que já senti.
Que sejas então o meu eterno santuário
Que transformo em alcova do que um dia vivi.
E se por ti não posso viver, se outro dia
Terei que viver assim, que venha a noite! Que anoiteça
Nesse meu mundo de sombras,
E se não posso te esquecer, e se já me esqueceste,
Pede à imagem de ti que me assombra,
Que também me esqueça!
* * *