A Pão e Água
não obedece o meu tolo carinho
não se preocupa com a minha paixão
nem me escuta aquele estalinho
que bate apertado no meu coração
não se exaspera com a minha meiguice
não se abate com a minha tristeza
se algo me fala, é alguma tolice
na qual logo encontro a maior sutileza
nunca se toca com a minha presença
nunca se toca com a minha aflição
nunca a toco, a vontade é imensa,
sem que eu tenha autorização
nunca me dá a menor esperança
nem que ela saiba que não quero mais
mantê-la presente na minha lembrança
somente pra ter mais um pouco de paz
nem o olhar que agride ela dá
nem o sorriso forçado ela ri
quem dera pudesse sua voz escutar
ainda que fosse só pra me ferir
nem uma carta, uma linha, uma letra
nem o disfarce do aceno com a mão
viajou pra bem longe, deixando a ampulheta
marcando o tempo por obrigação
Rio, 04/07/2003