Madrigal Insone
Tu consegues me encantar até calada...
Há um frenesi de versos na saudade
e acordes nupciais no teu silêncio.
Tua ausência é igual a uma fragrância...
Denuncia aos sentidos a presença do invisível
e exerce um fascínio floral na solidão.
Se me faltas? Apenas não te abraço...
Tu transitas pela sala, aérea e musical
e me salvas do suicídio quando a insônia me envenena.
Aprendi a amar a tua ausência, pois é ela que me habita.
O sol na minha pele é tua pele que recebo
e no verde das ramagens os teus olhos me espiam...
Sou órfão desse amor em pele e pêlos,
jamais senti em ti, o céu na boca
nem vi as estrelas dos teus olhos depois do ocaso flamejante...
Em mim tu tens forma indefinida,
no abstrato volume que afago
despido na magia das palavras.
Tu não me faltas qual o pão e a água, qual o ar e o fogo,
o que em mim te ama não tem corpo
e vive de morrer todos os dias...
Para mim me bastam a tua ausência poderosa
e a presença efêmera das rosas
que vivem exiladas no teu nome.
Para mim me basta que me salves no abandono
quando a insônia me ameaça com fantasmas
e os ponteiros do relógio me apunhalam.