Pela fresta
Eu nem sabia,
mas a porta estava aberta
quando você entrou.
Pegou as chaves, nem fiz cópias,
e guardou-as no bolso da calça.
Trancou-me.
Foi instalando-se em cada canto.
Trocou as luzes brancas por amarelas,
me ensinou a fazer café.
Tratou-me como um menino
e me fez brincar de ser feliz.
O que eu sabia
era que, mesmo lhe tendo dado
as chaves,
meu coração ainda tinha dono.
E aos poucos, fui cedendo,
fui sendo cada vez mais seu
a cada dia, a cada hora,
minuto e segundo.
Quando eu vi
era totalmente um novo eu.
Hoje, ambos temos as chaves
que tanto podem abrir, como fechar.
Cada passo, cada olhar
pode levar a um final diferente.
É o que queremos?
Qual é o final que almejamos?
Por ora, mantemos os olhos
e corações atentos.
Curtimos o doce bem-estar
de estarmos juntos.
Tenho a sua chave.
Você tem o segredo do meu cofre,
a minha senha de acesso.
Por isso lhe peço:
- Nunca deixe a porta aberta!
Poesia publicada no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).