Expurgante

Por que eu sempre insisto

Em me comportar

Como as mulheres de Chico

Tratando você

Como uma tatuagem

Sendo que você

Nem é

Uma imagem

É uma lembrança

Outra existência

Em que não

Éramos nós

Nem aqui estávamos

Mas Chico já pautava

Como num tango Portenho

Em que as mulheres

Usam

Lânguidas

Roupas de miçangas

Pretas como a noite

Meias finas

Batom vermelho-diabo

Pedantes como crianças

Patéticas como eu

Pele de mulher

Sonhos de menina

Relutantes como semente

Sorridente

Mente

Pra si mesma

Ser o que não é

Aparentar o que não sente

E mente

E se ajoelha

E rodopia

Em torno do seu homem

Como as mulheres de Chico

Que nada vêem

Nada sentem

A não ser

A dor de seus homens

A dor de seus filhos

A dor que não é sua

Mas fingem

Porque têm medo

De descobrir que

Depois da descoberta do pote

De moedas de ouro

Perdição de Alice

Não existirá nada

Além de um vazio de si

Como nas músicas

Em que as mulheres de Chico

Fantasiam

O amor

A dor

E nunca encontram

A paz

A sanidade

E a razão

Só a solidão

Denise Sammarone
Enviado por Denise Sammarone em 31/07/2009
Código do texto: T1728719
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