Expurgante
Por que eu sempre insisto
Em me comportar
Como as mulheres de Chico
Tratando você
Como uma tatuagem
Sendo que você
Nem é
Uma imagem
É uma lembrança
Outra existência
Em que não
Éramos nós
Nem aqui estávamos
Mas Chico já pautava
Como num tango Portenho
Em que as mulheres
Usam
Lânguidas
Roupas de miçangas
Pretas como a noite
Meias finas
Batom vermelho-diabo
Pedantes como crianças
Patéticas como eu
Pele de mulher
Sonhos de menina
Relutantes como semente
Sorridente
Mente
Pra si mesma
Ser o que não é
Aparentar o que não sente
E mente
E se ajoelha
E rodopia
Em torno do seu homem
Como as mulheres de Chico
Que nada vêem
Nada sentem
A não ser
A dor de seus homens
A dor de seus filhos
A dor que não é sua
Mas fingem
Porque têm medo
De descobrir que
Depois da descoberta do pote
De moedas de ouro
Perdição de Alice
Não existirá nada
Além de um vazio de si
Como nas músicas
Em que as mulheres de Chico
Fantasiam
O amor
A dor
E nunca encontram
A paz
A sanidade
E a razão
Só a solidão