Amantes

Quando me beija, arrepio
Quando me toca, desatino
Quando me envolve, inebrio
Quando me afaga, entonteço
Quando me tira a roupa, enlouqueço
Quando chama meu nome, esqueço
E, quando grita por mim, desfaleço

Quando a porta se abre, alegro-me
Quando me chama para jantar, surpreendo-me
E, se me presenteia, assim do nada, rio sem jeito
Porque acho que não mereço, e disfarço
Mas eu mereço, sim, transpareço

Se me ligar à noite, durmo bem
Se me contar o que fez de dia, escuto
E, se falar que se lembrou de mim, não acredito
Mas finjo acreditar e gargalho sem parar
Retribuo com a mesma dose
E provo de todo o seu corpo
Banhando-o em champagne
Para depois o despir dos pudores
Beijo sem parar
Até perder o fôlego
Até perder as forças
Até desmaiarmos
De tanto prazer!...

Poesia publicada no livro Muito Mais, de Márcio Martelli, Editora In House (2007).

Sobre a obra de arte que ilustra o texto:
O BEIJO - GUSTAVE KLIMT
1907/8. óleo sobre tela. 180cm X 189cm. Kunsthistorisches Museum, Viena