Um pouco do nada

Dos teus pedaços fiz minhas poesias

De cada parte que eu conheci ou sei

E a inspiração em mim não se cabia

De tantos rios que te naveguei.

De muitas formas te imaginei!

E imaginada transformei-te em minha

E minha foste, escrava, irmã, rainha

E teu já fui: escravo, irmão ou rei

E foste o sol a alumiar estradas

E foste a chama a conservar-me quente

E foste a insônia pelas madrugadas

E foste a ferida exposta e dormente

As tuas rimas tomaram minhas mãos

E as minhas palavras formaram tua imagem

E passaste a ser mentira, a ser miragem

E me quedei mais uma vez sem chão

E por singelos, simples, esses versos

Que entendas o que nunca eu te falei

O que mantém meu peito submerso

No leito d’um rio que nunca atravessei

Eu, de todos, o mais pífio amante

Vivia o mal de corações ciganos

Saltando em sístole, de engano e engano

Como no mar um nômade navegante

E ao encontrar-te vi-me enfim perdido

No centro escuro d’algum labirinto

E a chama que no peito ainda sinto

Só é maior, por já tê-la sentido

Mas no meu pranto cego de mendigo

Eu não te peço nada, nem um grão

Pois viver de esmola e de ilusão

Seria, em muito, pior que um castigo

Que só em versos calmos, como esses,

Pode caber um velho sentimento

E posso até tocar-te em um momento

Da mesma forma que te toco às vezes

Intensamente, como foi por meses

Até deixares os meus pensamentos

Até me pasma não voltares cedo

Até me pasma não voltares mais!

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 29/07/2009
Código do texto: T1726470