CALvários
Saudades
O antro já morto, sem platéia.
Vultos, sustos e reflexos,
Minha sensação e sua idéia
Multiplicada, desmedida em teu sexo.
Ligo, anseio, esvazio com olhos
A mesma falta que sinto quando os fecho.
Silêncio
Noturno. Impregnado em alcatrão.
Votado. Embevecido. Veloz.
Prévio à gasta menção,
Leve. Estranho, move o algoz.
Digno, vacilante, saudando a imensidão,
Reavalia e observa atroz,
Confrontando, movendo a sugestão.
Empertigando-se e morrendo na voz.
Surdez
Vi-me surdo.
Ouvi-me surdo.
Fiz-me surdo.
Subi em minha nobreza
Transbordei-me em orgulho,
E minha nobre tristeza
Levou a beleza
Que ainda vasculho.
Palavras ditas,
Não pensadas.
Repousadas,
Aflitas,
Cansadas.
Vi-me surdo.
Feridas; Brevidade; Eternidade.
Arrependimento. Impulsos. Saudades.
Não há meios de dizer
Sem se sentir amordaçado
Que minha maneira de ver
Era de olhos fechados.
Ver o tempo que passou,
Que passa.
Vi-me.
Não, não estava surdo.
Estava morto em seus pensamentos,
Que meus olhos apenas, não conseguiam focar.
Que minhas palavras se desmanchavam no ar.
Estive morto por todos aqueles momentos.
Estou um pouco ainda.
Sou resto.
Resquício requisitando
Ao tempo
Que ouvisse.
Estive sempre mudo.
Fiz-me assim.
Desejo calado.