CALvários

Saudades

O antro já morto, sem platéia.

Vultos, sustos e reflexos,

Minha sensação e sua idéia

Multiplicada, desmedida em teu sexo.

Ligo, anseio, esvazio com olhos

A mesma falta que sinto quando os fecho.

Silêncio

Noturno. Impregnado em alcatrão.

Votado. Embevecido. Veloz.

Prévio à gasta menção,

Leve. Estranho, move o algoz.

Digno, vacilante, saudando a imensidão,

Reavalia e observa atroz,

Confrontando, movendo a sugestão.

Empertigando-se e morrendo na voz.

Surdez

Vi-me surdo.

Ouvi-me surdo.

Fiz-me surdo.

Subi em minha nobreza

Transbordei-me em orgulho,

E minha nobre tristeza

Levou a beleza

Que ainda vasculho.

Palavras ditas,

Não pensadas.

Repousadas,

Aflitas,

Cansadas.

Vi-me surdo.

Feridas; Brevidade; Eternidade.

Arrependimento. Impulsos. Saudades.

Não há meios de dizer

Sem se sentir amordaçado

Que minha maneira de ver

Era de olhos fechados.

Ver o tempo que passou,

Que passa.

Vi-me.

Não, não estava surdo.

Estava morto em seus pensamentos,

Que meus olhos apenas, não conseguiam focar.

Que minhas palavras se desmanchavam no ar.

Estive morto por todos aqueles momentos.

Estou um pouco ainda.

Sou resto.

Resquício requisitando

Ao tempo

Que ouvisse.

Estive sempre mudo.

Fiz-me assim.

Desejo calado.

David Dias
Enviado por David Dias em 29/07/2009
Código do texto: T1725960
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