No silêncio da manhã
No silêncio da manhã que corrói a
alma doida faço versos que
mimetizam a saudade de outrora.
Olhos vermelhos são vestígios da
noite insone que o tempo não
apaga, apenas mastiga nos
ponteiros do relógio, na
passagem voraz das horas.
Ainda ouço o canto dorido
das cigarras que explodem na
melodia pura e estridente
do sol de outono.
Procuro por ti no barulho
solene da cidade, nos rostos
cansados que passam pelos
olhos, cruzam o espaço, infestam
as ruas de segredos.
Rostos andarilhos como
o que um dia tive.
Quero compor o amor que
sinto na estrutura flexível do
poema que escorre por
entre os dedos.
Encontro teus olhos na dor
que dilacera e angustia
meu peito.
Talvez o tempo seja, enfim,
tão e somente uma
agridoce veleidade.