Só Queria Entender

Por mais que fosse doce ou que não fosse o beijo teu

Por tudo que vivi porque entendi que era meu

E pela ineficácia em querer reconhecer

Que nunca consegui te entender

Por toda a desventura dos caminhos que trilhei

E pelo fim da estrada que sozinho alcancei

Ou pela namorada que jamais eu pude ter

Por não ter conseguido te entender

Por muitas flores rosas, amarelas, furta-cor

Que enchiam todas elas nossa cama de amor

Naqueles fins de tarde em que eu pensava acontecer

A chance de poder te entender

No meio da fragrância dos cabelos que cheirei

A minha inoperância nesses lábios que, bem sei,

Tão doces me impediram bem na hora de dizer

Que estava conseguindo te entender

Descer de braços dados pela grama do jardim

Correr atrás da chuva que corria atrás de mim

Sorrisos abafados na certeza de eu ter

Achado que podia te entender

Sozinho em meu quarto numa noite de verão

Olhando para cima, vejo que a televisão

Me ilude ao me mostrar teu lindo rosto a escarnecer

Da minha pretensão de te entender

Conciliar o sono, carneirinhos de algodão,

Seria bem mais fácil se eu tivesse a tua mão,

Teu rosto e o teu corpo – tinham eles o poder

De achar que eu podia te entender

Voltar da padaria, pão de queijo, requeijão

Morrendo de alegria de te ver que ainda não

Erguera-te da cama só pra que eu pudesse ter

Mais uma chance de te entender

Mas hoje, Blumenau, Havana, copo de açaí

Nas praias de Belém me esqueço que te possui

E muito mais que isso, me esqueci até de ser

O cara que já quis te entender.

Rio, 30/03/2005