Amor Bandido
 
Duas tristes figuras. 
Saudosas dos ímpios parceiros,
angustiadas por terem
jogado fora suposta felicidade.
Vítimas e algozes,
iguais em defeitos, 
nenhuma virtude. 
Companheiros nos desvios,
percebendo ter pela frente um igual.
Irresponsabilidade ou falsidade.
Predadores que se dissimulavam

com vestes de presa.
Uma tamanha mistificação 
que beiravam a hipocrisia.
Pegos em flagrante delito,

ambos culpados.
Duas serpentes
que inocularam seus venenos, 
querendo, mas não tendo
autoridade moral
para acusar o outro pelos pecados,

prejudicando-se fraternalmente.
Algo dramático.  
Na impossibilidade
de fingir o tempo todo, 
o aparecimento da contradição, 
o germe do conflito.
Amantes dos interesses e conveniências.
Mas um dia, fim de caso,

numa estratégia agressiva 
foram-se, cada um
para um lado diferente 
a perturbar o destino

de outros pobres desavisados.
Mas qual nada, ficará o desejo,

afinidades não se escolhem, se tem.
Então uma tortura fazer
o que não desejavam,
estando em outros braços.
Com os corações ocupados
por indesejáveis inquilinos,
como suportar a ausência?

O coração discorda do cérebro.
A razão se aninha na ambição,
mas os sentimentos 
só sabem querer, não aceitam clausura.
Mesmo que valorosos combatentes
das hostes da dissimulação.
Mesmo sabendo-se doenças,

eram como benignos remédios,
um para o outro.
Encontraram, por linhas tortas,
uma estranha felicidade
de um‘amor bandido’.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 25/07/2009
Código do texto: T1719158
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