Reencontro
Os olhos se buscavam a todo momento
Mesmo que, como um ímã ao avesso
Ao se encontrarem, não duravam tempo
Necessário para manter um brilho aceso
Se afastavam em instantes, e lá dentro
Quando como às paredes do céu atravesso
A chama já miúda mas, no fundo, no centro
O brilho insistia em manter controverso.
Era tempo de a alma, como último suspiro
Como um sopro gelado em pleno verão
Não mais distingüia o tempo e aquilo
Insanidade os sonhos, ébria desatenção
Refrescados no corpo, um coração pupilo
Órfão que vê a primeira linha em imaginação
E quase a carne ao coração sucumbido
Já não mais sucumbia, não existia o não.
A saudade impedida, esquecida no canto
Vinha a rabo de olho afim de constatar
O perigo dos olhos, das chamas, do pranto
E do corpo, a desordem, o perigo de amar
E se outrora eu era um mínimo de santo
Ali já não era mais que um demônio no altar
Pois que em tempo estive debaixo do manto
E ao sair não lembrei de o amor resgatar.
Uma pena, eu digo! Uma pena, minha Flor
Que esta noite, eu sei, logo terá seu fim
E, eu sei, não me engano, vá para onde for
Sentirei os teus ares, teu cheiro de jasmim
Mas por hora, sem culpa, não senti o sabor
Como já não mais ouço tocar os clarins
E, eu juro, se eu não resgatei meu amor
Não foi pelos teus olhos, foi mesmo só por mim.
E na cólera, na fúria, e em todo meu prazer
Foram noites e noites aguardando manhãs
Mesmo aos anjos, então, eu vinha a obedecer
Mas formaram-se em volta vários e vários clãs
Que eu confesso, eu mesmo vim a tecer
E os anjos me eram como irmãos e irmãs
Que insistiam, o amor ainda vai renascer, mas
Por ora, te acalma, lembra e faz mente sã.