CEM VERSOS...
Cem versos...
I
Ah! Se como nos filmes alguém me amasse,
Na sua bravura e rebeldia,
Na sua insanidade e desejo,
Talvez assim como eu me vejo,
Farto a cada sol do meio dia.
Já no inverno exalo primavera;
Que os olhos dela me trazem,
Como verão os seus lábios ardem,
E eu, pobre, somente a desejo.
Ah! Se fosse como às canções de amor,
Vivido sobre mim o seu ardor
De quem que quer por mim viver.
Ah! Na vida de cem versos se verão;
Sobre mil linhas uma palavra,
Nas vestes que revelam indecisão
Que a única certeza não está mais clara.
Na clareza desta certeza; vede coração,
Palavras das tortas linhas,
Da vida com que caminhas,
O verso desta imensidão.
Na minha desventura, a sua beleza,
Que desbrava o valente dos versos,
Tornando-me um ser ao inverso,
Das canções da sua realeza.
Ah! Meus olhos, minuciosos amantes,
Que defrontam com os mais negros diamantes,
Nos olhos profundos como o mar.
Na revolta deste instante,
Tornei-me em vida um meliante,
Escrevendo versos, aonde quer que eu vá.
Escritor, poeta e desta vida um andante,
Tenho feito das palavras uma montante,
Que corta, mas não pode matar.
Falando, cantando e vivendo o seu favor,
Palavras que bailam no vento da dor
E deitam-se no leito do sofrer.
São as palavras que tenho escrito,
Como réu; as vivido
E como aluno a aprender.
Ah! Cem versos que vão,
Por além da ilusão,
Mostrar mais do que escrever.
Tão inconstante como o coração,
Tão belas como a canção
Que exala o viver.
As palavras vêm nos encantar,
Não tanto quanto os olhos do mar,
Mas o melhor vem nos trazer.
Mostrarão cem versos do meu coração.
II
Com mais força e beleza,
Vertem-se as palavras do encanto,
Como as vozes com que eu canto
E na noite, dormem nas profundezas.
Como lírio que de manhã floresce,
Palavras, minhas palavras, que eu sustento,
Sobre a alva linha do pensamento,
Mas que sobre o papel então padece;
Pois poucos com os seus olhos as verão,
Poucos do seu pulsar as sentirão,
Mas a sua força não esmoreci.
Dos versos que são passados,
Viste sobre mim um fardo,
Uma luz que não escurece.
Que descrevem as palavras,
Como os negros diamantes,
Aqueles olhos flamejantes
Que acendem o meu declamar.
Ah! Mas como ardem aqueles olhos,
Ah! Mas como queimam e me invocam,
Queimando tudo a minha volta
E deleitando-me neste sonho.
Queima e arde tudo que nela há,
Tão formidável em seu ser gigantesco,
Vivendo a irrealidade desta minha imaginação,
Queimam os seus lábios,
Brilham os seus olhos,
Seduz a sua pele,
Encantam os seus cabelos.
Seu cheiro que exala flor,
Seu sorriso que ofusca o sol,
Vida, vida minha, o que faço?
Pureza que neste sonho tão majestoso,
Onde como servo eu sou posto,
Ante aos negros diamantes.
As palavras nestes versos fingiram,
Também como nunca lutaram,
E como sempre ardem.
De uma arte inata eu sou aprendiz,
Desta história que eu vivi,
Minha arte, meu amor.
Na arte que eu sou vivente,
As palavras não são ausentes,
É vida de um peito sonhador.
Hoje amo olhos negro diamantes,
Sonho com eles a cada instante,
E em cem versos a venho escrever.
Que na vida de um poeta meliante,
Das palavras também sou amante,
Escrevo e amo a poesia que nela posso reviver.
Ygor Pierry