ASSIM FAÇO A HORA (em Pasárgada)
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá serei Rainha
Serei amada pelo Rei
Como criança sonhei
Haverá uma Rosa a me contar
Estórias dessa terra
de fantasmas e fantasia
Onde nasci e me criei
Este que ainda vivo
Horrores e dores
e ainda chorarei
Vou-me embora pra Pasárgada
Deixarei esse umbral
Onde há gente insana, cruel
Carros aloprados, sinistros
Velocidade e ladrões
Mentes suicidas e perturbadas
Arvores queimadas
Mulheres vadias e medonhas
Bêbados pelo chão
Uma vida dura
Fome de frutas e verdura
Trigo e pão
Vou-me embora pra Pasárgada
Onde há infância
crianças risonhas
Tomarei banhos de puro mar
Com peixes e cavalos marinhos
Onde não terei telefone
Nem rádio ligado, sem fios elétricos
Talvez conversas nas tabernas
Com velas e nas taças puro mel
Sorverei sumos de uva, vinho
Da Pérsia com o Poeta
Omar Khayyâm e amigos
Lerei cânticos
Para adormecer
Esperando meu Rei
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá andarei de bicicleta
Tomarei leite deixado nas portas
Ouvirei "cries of London"
Correrei às casas de sape
aos campos, prados
Descansarei na grama dos jardins
Colherei flores e perfumada ficarei
Vou-me embora pra Pasárgada
Escreverei poesias de amor e paixão
À espera do Rei
Aquele que eu tanto quis
na rude civilização
e fui triste infeliz
E em Pasárgada
reencontrarei!
Assim faço agora
A hora de acontecer
e ser feliz
ser feliz
Vou-me embora...
Vou-me embora...
Cintia Thomé
Diálogo com Manuel Bandeira "Vou-me embora pra Pasárgada"