Por amor... (II)
Não há mãos que me consolem...
Minhas próprias lágrimas
Me dissolvem...
Eu vou para o Mar dos Esquecidos
Atravessando o Grande Rio...
- Mas não trouxe as moedas do Barqueiro!...
Então
Ficarei aqui:
Entre a terra dos vivos
E a morada dos mortos...
Vagarei nas noites sem lua
Sob pesadas correntes.
E ainda chorarei
Tantos tormentos...
E meus lamentos
Não deverão jamais vir a ser ouvidos
Pois não tenho o direito
De assombrar aos meus queridos!
Para o meu crime, o castigo!
- Jamais voltar para trás... -
Esta era a ordem...
E eu olhei... Queria estar contigo!
Desobedeci às leis da Vida...
E agora vago, sentida
Pela carícia perdida,
E pelo castigo dos que crêem
E desobedecem as Leis...
Sem nome, sem rosto, sem voz...
Eu mesma fui meu algoz...
Cegou-me o Amor...
Solidão e frio neste lugar de almas penadas
Com sofrimento atroz...
É frio e escuro
Este lugar onde fui jogada
(Ou me joguei...)
Quis viver um amor:
Desrespeitei a Lei...
E não me é dado o descanso da Morte...
O sono é imenso
Mas não posso dormir...
Terei de vagar entre os umbrais
Sem esquecer jamais
Do amor que tive
E ousei Amar para sempre...
- Ó vós que passais pelos cemitérios
Ouvindo o barulho do vento
No arame das coroas de flores:
- Olhai para mim...
Sou como o pássaro da noite
Que vago sem descanso
Sofrendo do vento o terrível açoite:
- Rezai por mim...
Que não vos cegue o Amor!
Lembrai-vos que há Leis
Acima do Amor...
- Para trás jamais vos volteis!
Tentar reviver o passado
Trás a dor e o angustiado
Remorso e castigo!
- Não desejo que vagueis
Sem descanso comigo!
Apenas lhes peço:
- Rezai!...
Conselho de amigo:
Não ressusciteis o Amor!
Se ele volta...
- É apenas castigo!