Elogio ao Meio

calma demais

lento demais

burro demais

o demais nem sempre é bem visto

não é sempre querido

não é o que todos desejam, como dizem

o demais cansa

o demais cessa

ele transborda e ninguém quer limpar

o demais mexe com a ordem

mexe com a hipocrisia

sacode estruturas

incomoda fissuras

o demais não me agrada

mas a muitos diz futuro

o mesmo com o de menos

parece coisa seca

oca mesmo, enrugada

o de menos suga

é o punhado de sal na gota dágua

a esponja do sentimento

o de menos deixa espaço

não preenche nada

não infla, não move, só comove

desperta pena

cadê o meio das coisas?

a fresta, o olho na porta

a balança alinhada, o diálogo

isso são produtos do meio

o meio termo é comunicação

é tempero, é desejo

me atiça o meio termo

é um convidar descompromissado

é um acompanhar, um passeio

o meio é onde tudo pode começar bem

é onde há bem e mal

é o neutro tendo energia

não é estável, é só o centro

o centro é o meio porque já foi

o demais e o de menos

é a experiencia, a catarse

o meio é vida