FRENTE a um REI SOU APENAS ZÉ

Meu amor, a tristeza é só o soluço

das chuvas preparando o verão quando tudo é treva,

e se o triste é sempre confuso

só até o sol nascer, ergo da prece a quem me dera

o sonho de nunca mais padecer.

Mas, do que vale tanto viço

se morro de raiva quando o galo tira da garganta

a manhã e só o que levanta

é o devedor maciço

de tudo quanto dentro de mim permanece mudo?

Eu levo na voz além do amor

indecente o eco do sol,

e se te aborreço a ponto de você me evitar

tropeçando nos versos brutais

desta canção para ninar elefante

é que além do acorde dominante

deixo na tua porta

o sexo bravamente desenhado

nos delírios que arranquei da timidez

como se desejar ativasse no homem mais do que a fé.

Por mais que me chame eu nada direi

frente a um Rei sou apenas Zé,

e tudo o mais que valer a pena

te entrego na alma serena

o amor que eu sinto ser capaz.