CRENÇA

Ao meu amor
doutrino o silêncio do torpor
que a saudade aviltante me impôs
Delineo cada passo
cansado de te ver e não te alcançar

E ainda que a força que o move
por pura obstinação se ostente
é a saudade que agora aflora
fixando marcas
em golpes brandos e insistentes

Mas lembra? Fora tu mesmo
quem disseste não ser o amor
lascivo, a marca do peito indelével
que me destes, nem a fome escancarada
saciada no instante do suor

Era somente o sorriso, o abraço
a leveza que nos unia em compasso
o beijo leve e terno que tu trazias
resguardado no teu cheiro inebriante
transformando tudo em volta em poesia

Mas no instante em que eu procuro definir
o silêncio abeberando-se em saudade
eu sinto nosso amor reaflorar
ainda que distante, no toque, no abraço
cada vez mais a vida a nos ensinar

Que mesmo que às vezes, olhando o mar
não haja destino que se veja
inevitavelmente, lá ele estará
se vais temer o horizonte a se abrumar
dependerá da crença de quem o veleja

Por isso teu amor é o meu barco
teu silêncio meu abrigo, teu abraço meu repouso
e ainda que cerceiem sua calma
desatinem sua alma a lhe deixar desanimar     
eu peço que ouse acreditar, pois te amar, ainda ouso.