Relatório De Um Sábado À Noite

Relatório De Um Sábado À Noite

Hoje eu passei pela portaria muitas vezes.

Seria sandice de minha parte não olhar

para o mural cheio de fotografias:

pessoas sorrindo; pessoas cantando,

fazendo gestos, bebendo com tanta alegria,

conversando distraidamente com amigos...

A cada passada uma olhada

discreta,

tímida,

terna...

(Eu guardo um arcano comigo)

E todas às vezes eu olhava para ti!

Tu estavas sorridente... congelada à minha fantasia.

E eu quimerei a cada instante estar contigo

conversando,

sorrindo,

divertindo-nos

como um albatroz infantil.

Não era um sonho acre,

dionisíaco,

infeliz...

Por que meu Deus esses absortos?

Ah! Como anelei vê-la, senti-la

– sem malícia, porque não sinto isto quando penso em ti –

Daquela festa tu foste a mais bela!

Na verdade tu és minha Déia particular.

O tempo passa, voa e nós continuamos

distantes,

afastados

pelo horário,

mas tu nunca estás distante de mim.

Sozinho, no silêncio daquele sábado,

carente na escuridão soturna...

Peito dorido,

alma sôfrega

coração apaixonado...

Tudo em contrações dentro de mim.

E tu estavas gélida,

estática,

naquele mural de fotografias.

Contudo, movimentando-se assaz para me dar alegria,

aconchego,

subterfúgio,

ternura,

paz,

refrigério...

(Pena que tu nunca soubeste disto)

O meu medo é: tu pensares ufana

que tão cândido sentimento de um fidalgo

bardo seja ultraje,

inverdades ou perversões de biltre.

Eu gosto de sentir isto!

Porque me faz lembrar um primórdio pretérito

particular meu,

onde eu amava sem medo,

dava-me por inteiro

e não questionava nenhum por quê.

Simplesmente queria estar junto

sem me importar com horários e compromissos.

Sábado meu!

Paixão de estátua!...

Tu me lembras meu primeiro amor...

Pena que o nosso horário não bate

se não eu te diria...

07/06/2008 20h49

Mênfis Silva

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 07/07/2009
Código do texto: T1687510
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